Cisne Negro conta a história de Nina (Natalie Portman), uma meiga e virginal bailarina que deseja estrelar o espetáculo Lago dos Cisnes de Tchaikovsky, para isso, a garota precisa interpretar o cisne branco e o cisne negro, o problema vem quando a menina que precisa encontrar sua “parte negra” se perde na loucura por causa da personagem.
Essa é a premissa do filme de Daren Aronofsky, conceituado diretor de Pi, Réquiem para um Sonho e O Lutador. Lançado no final de 2010 (começo de 2011 no Brasil) o filme Cisne Negro, que desde Cannes vem dividindo a opinião de críticos, chegou ao Brasil com o mesmo efeito. As críticas foram as mais variadas, desde péssimo até excelente, os motivos para tais avaliações podem ser vistas a partir de obras anteriores do diretor, que em comparação, podem ter tachado o filme como ruim. Para alguns o filme não conseguiu chegar aos resultados obtidos anteriormente pelo diretor, ou que Cisne Negro, não tenha acrescentado nada de novo à forma de trabalho do diretor.
Vários filmes, anteriormente, também provocaram a discórdia de opiniões entre críticos, um exemplo é de Sin City – A Cidade do Pecado (2005), de Robert Rodriguez e Frank Miller, onde alguns críticos o consideraram uma reprodução bastante fiel da Graphic Novel de Frank Miller contando as crônicas de uma cidade corrupta e de seus cidadãos. Porém, Arnaldo Jabor, em seu artigo “Sin City: A estética da morte Cult” abomina o filme, ele reconhece a sua falta de conhecimentos da Graphic Novel ou da tecnologia usada para fazer o visual do filme, sua critica cai diretamente no enredo, com uma história carregada, o filme conta com cenas de crimes fortes, a justiça que não funciona, estupro, pedofilia, coisa que Arnaldo Jabor diz ser “contra a natureza”.
Mas Cisne Negro de Aronofsky não possui o “contra a natureza” de Jabor, a critica negativa dele é basicamente artística. O crítico do Omelete, Erico Borgo, considerou o filme fora do território seguro de Aronofsky. Segundo o crítico, o suspense é um gênero difícil, no qual, o diretor não conseguiu manter a surpresa do suspense, mostrando sempre o que estava fazendo. Contudo, para quem assistiu o filme, fica a dúvida, a personagem interpretada por Milla Kunis é real ou fantasia de Nina (Natalie Portman)?
Inácio Araújo, da Folha, faz uma crítica bem mais dura onde considera o filme péssimo, ele diz que a película “procura impressionar os impressionáveis” e faz uma comparação ao filme anterior do diretor, este que é só elogios: “Aronofsky parece ter se esquecido de que seu filme anterior foi o belo, límpido, ‘O Lutador’". Fica difícil contradizer Inácio Araújo com as suas referencias e conhecimentos técnicos do cinema, como vemos um exemplo abaixo:
O filme verá o mundo a partir dos olhos perturbados da bailarina. O que significa cenografia fundada sobre a oposição obsessiva entre branco e preto, filmagem quase exclusivamente em interiores, câmera em movimento (não raro na mão) seguindo-a por corredores que parecem a "grande tela" da Bienal neoexpressionista de 1985, para dar ideia de perturbação, identificação entre alucinação e realidade etc.Breve: ""Cisne Negro" lembra um concentrado de efeitos destinados a criar "arte" e "profundidade"; lembra também "O Gabinete do Dr. Caligari" (1920) sem metafísica, centrado no conflito entre as duas metades de Nina que evolui a um final imitando "O Estudante de Praga"(1913).
A Folha publicou uma segunda crítica contrária a de Araújo, escrita por André Barcinsky, este por sua vez achou o filme ótimo, e o que Araújo chamou de “impressionar os impressionáveis”, Barcinsky chamou de “visualmente impactante. As imagens beiram o kitsch e o filme todo tem uma atmosfera lúdica e exagerada. Darren Aronofsky não é um cineasta conhecido pela moderação e aqui ele mergulha de cabeça”. Barcinksy também compara Cisne Negro com O Lutador, mas de forma positiva, igualando os dois filmes ao mesmo patamar.
O crítico do Estadão, Luiz Zanin Oricchio, considera também o filme mediano, diz que Aronofsky é um diretor que mostra tudo “na lata” e por tentar deixar as coisas subentendidas acaba por estragar seu trabalho. Oricchio, entretanto, abandona profissionalidade do texto ao demonstrar certo favoritismo na atriz Mila Kunis, sem nenhuma relação com o filme.
A premiação de um filme vale mais que sua crítica? Cisne Negro concorreu a diversos prêmios, em diversas categorias, dentre os mais importante prêmios concorridos podemos ressaltar: Oscar, Globo de Ouro, BAFT e SAG awards. Os prêmios concedidos foram os de melhor atriz à Natalie Portman, e nisso os críticos não discordam ou simplesmente não comentam que Portman é uma boa atriz e que o prêmio foi merecido. As demais indicações do filme, como: Melhor filme, melhor roteiro ou melhor direção, não foram ganhas em nenhuma das premiações, as criticas consideraram o filme como mediano, no geral. Aos especialistas, quem tem um conhecimento maior de obras cinematográfica, Cisne Negro não impressiona, é algo já visto, batido, mesmo que em diferentes filmes, como Inácio Araujo cita no fim de sua crítica.
Blade Runner de 1982, estrelado por Harrison Ford e dirigido por Ridley Scott, também foi “vitima” da mesma guerra entre críticos, mesmo depois de várias versões, o filme ainda é considerado ruim, mesmo tendo entrado no cânone cinematográfico.
A falta de conhecimento de obras antigas faz com que os que não têm um profundo conhecimento, ou mesmo não assistido os filmes certos, coloquem o filme num pedestal, vendo-o como coisa inédita e inebriante.
Filmes assim, que geram um atrito entre críticos só pode ser desempatado pelo espectador, na duvida o melhor a se fazer é tirar suas próprias conclusões e assistir ao filme.
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