Geni e o Zepelim

     A música de Chico Buarque,escrita na década de 1970, durante a Ditadura Militar, pode ter diversas interpretações. Vamos tentar abordar aqui todas essas possíveis interpretações diferentes. 
     Uma curiosidade da música é que ela foi a primeira a conter palavrões na letra. Antes de começarmos, vamos ouvi-la e prestar atenção na letra.


      Vemos que a Geni, mesmo sendo alvo de duras criticas na cidade onde mora, é feliz. Tudo fica claro logo na primeira estrofe:

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co'os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir

     Além de ser feliz, mesmo vivendo nessa sociedade opressora, Geni também é boa, caridosa... e passiva. Mesmo sofrendo os abusos da cidade, nada faz com que ela erga a sua voz a seu próprio favor, ela aceita. Talvez se sinta impotente, pois, como ela pode fazer diferença entre tanta gente poderosa na cidade? Ela vive com o pouco que tem e se conforma com isso.
      Mas sua importância muda, quando um zepelim chega querendo destruir cidade, e a única forma de salvar essa cidade é pela Geni, que relutantemente se entrega ao homem, a fode, e depois parte. Geni que se sente suja depois de se entregar a tal homem, novamente fica a mercê da cidade que notamos ser agressiva e falsa.
Mas...

Quem é Geni?


      Geni pode ser uma jovem garota independente que faz o que lhe dá na cabeça, uma feminista,
uma rebelde em relação aos valores morais da cidade. Ao considerarmos essa versão, temos uma narrativa "literária" da saga de Geni. Uma história de começo, meio e fim, bem determinada, e de fácil compreensão  
    Numa segunda interpretação temos Geni como um transexual (Genivaldo) que sofre abusos homofóbicos. Essa interpretação explica melhor o repúdio da cidade em relação a Geni, de como nossa sociedade caracteriza e vulgariza essas pessoas, de como as tratam como aberrações, que não são, onde o bom, comum, o correto é o branco heterossexual que não tenha uma vida sexual exposta . O apetite sexual do capitão do zepelim, justo com Geni, acaba a transformando em uma aberração e em um produto, a sociedade vê Geni e o capitão como semelhantes, como monstros. Geni acaba ainda mais vulgarizada, e mesmo salvando a cidade, ela ainda é uma péssima influencia, é uma monstra que deve ser colocada no seu lugar: abaixo da sociedade.
     Mas se vermos Geni como nós, o povo brasileiro que sofre nas mãos do governo (A cidade), e sofrendo nas mãos do capitão (EUA, FMI, etc), temos uma interpretação política da música. Considerando que a musica foi composta por Chico Buarque em plena ditadura militar, temos um outro panorama, Geni novamente como o povo, a cidade como quem apoiava o golpe militar e seu regime e o capitão como os próprios militares.

Resumindo...

 
     A música de Chico Buarque continua super atual, e pode ser colocada em diversas interpretações: Politicas, Feministas, LGBT's, e quem sabe em mais diversas outras? O preconceito, a ganância e a sede por poder geram diversas Genis por ai, e possivelmente, em algum momento de sua vida, você já tratou alguém como Geni, seja por causa de sua posição social, de sua crença ou pelo seu preconceito.

Comente...